Paróquias: Sé Nova, Sé Velha, Santa Cruz, Nossa Senhora de Lurdes, São Bartolomeu

Igreja de Nossa Senhora de Lurdes

A paróquia de Nossa Senhora de Lurdes é relativamente recente. Por isso, o seu património é também recente. Quando o Bispo D. Manuel Bastos Pina criou o Bairro Operário dos Montes Claros, no séc. XIX, mandou erigir no centro desse bairro uma pequena capela. Essa capela foi dedicada a Nossa Senhora de Lurdes, cujas aparições em Lourdes tanto impacto causaram na vida da Igreja nesse século. Essa pequena capela foi enriquecida com um retábulo do séc. XVII vindo de um extinto convento franciscano da Rua da Sofia, na Baixa de Coimbra. Quando, em meados do séc. XX, o crescimento da zona residencial dos Montes Claros levou ao desejo de criar uma paróquia, foi aos padres Franciscanos que foi confiada a missão de iniciar essa nova paróquia, que seria erigida em 29 de setembro de 1968. Desde cedo, ficou evidente que a pequena capela era insuficiente para as necessidades da nova comunidade. Assim, a comunidade dos padres Franciscanos deu início à construção de um pavilhão multiusos que, durante mais de quarenta anos, serviu de igreja paroquial.

Espaço da assembleia e a mesa do altar

História da construção

Ao longo dos anos, os sucessivos párocos alimentaram o desejo da construção de uma igreja de raiz. O projeto, marcado por ventos nem sempre favoráveis, foi confiado ao Gabinete de Arquitetura “Barbini Arquitetos”. A primeira pedra do novo templo foi benzida no dia 7 de dezembro de 2002. Depois de um longo período de edificação, a Igreja foi dedicada pelo Bispo D. Albino Mamede Cleto, a 24 de outubro de 2010.

O complexo

A sua arquitetura contemporânea e minimalista é composta por dois blocos fundamentais, abertos para um pátio, a imitar intencionalmente os claustros e pátios interiores de muitos dos edifícios históricos da cidade de Coimbra. Estes dois blocos são ligados a norte por um pórtico de acesso.
A sul deste pátio, uma ampla varanda que se abre para a parte histórica da cidade. Daí se pode contemplar o Jardim Botânico, a Penitenciária, os Arcos do Jardim e a Universidade Velha de Coimbra. Esta abertura sul (o lado da luz…), faz-nos reconhecer que a Igreja não se pode fechar nos seus espaços, mas tem de ser uma comunidade aberta e luminosa, em diálogo com as diferentes realidades da nossa existência: a cultura, a ciência e o mundo, com os seus problemas e os seus desafios.
De modo curiosamente provocatório, ergue-se, junto a essa varanda, uma torre sineira imensa, de enorme impacto visual quando observada dessa mesma zona histórica, como que a recordar à cidade que no século XXI a Igreja marca também presença pela sua modernidade.
O bloco nascente aloja diversas salas distribuídas por dois pisos - de catequese, espaços administrativos, sede do agrupamento de escuteiros, bar e, um pouco destacada, a casa paroquial.
O bloco poente corresponde ao espaço celebrativo da Igreja, constituindo um amplo salão, tendo no extremo norte a sacristia e o gabinete de atendimento do pároco.
O pórtico de ligação destes dois blocos é encimado por andar que acomoda 4 salas de catequese.

Por cima do arco central, encontra-se uma grande cruz que nos remete para a entrega sacrificial de Cristo

O Corpo central da Igreja

A Igreja é retangular, estando o presbitério situado na parte mais larga. A Igreja é composta por três partes: um corpo central com pé direito elevado, ladeado por duas “naves laterais”, mais baixas. Do lado poente do corpo central, encontramos o presbitério, composto por um estrado sobreposto dois degraus em relação ao espaço da assembleia. A parte detrás do presbitério apresenta uma sequência de três arcos retangulares que se abrem para um grande corredor, iluminado superiormente por uma grande janela horizontal, que percorre a totalidade do espaço. Podemos intuir nestes três vãos, através das quais entra a mesma luz que vem do alto, a Trindade Santíssima, cuja única natureza se expressa nas três Pessoas Divinas. É na interseção entre este pórtico e o espaço da assembleia que se encontra a mesa do altar e a mesa da Palavra, lugar onde se celebra a eucaristia, sacramento do Mistério Pascal de Cristo, que permite o encontro entre Deus e a Sua criatura: pela eucaristia a comunidade cristã celebrante tem acesso à vida divina, à comunhão da Trindade; pela mesma eucaristia, Deus Trindade vem ao encontro do homem realizando a sua santificação. Por cima do arco central, encontra-se uma grande cruz que nos remete para a entrega sacrificial de Cristo, para o Seu mistério pascal, cujo ponto culminante é a Sua crucifixão, momento em que Jesus estende os braços entre o céu e a terra, realizando a reconciliação entre Deus e a Sua criatura.
Na parte superior da Igreja, em todas as alas, exceto a poente, onde se encontra o presbitério, existe um grande coro alto que aumenta significativamente a capacidade da Igreja.

O Batistério

No corpo lateral norte, ligeiramente recuado relativamente ao corpo principal, encontramos o batistério. No centro deste espaço retangular, encontramos a fonte batismal. A fonte, feita de pedra de Ançã branca redonda, foi esculpida aquando da constituição da paróquia, na década de 60. O espaço do batistério abre-se num grande janelão vertical voltado a sul para uma espécie de pátio aberto onde encontramos a janela horizontal do presbitério.

Capela do Santíssimo Sacramento da Igreja de Nossa Senhora de Lurdes

A Capela do Santíssimo Sacramento

No corpo lateral sul, também ligeiramente recuado relativamente ao corpo principal, está a capela do Santíssimo Sacramento. Nesta capela foi instalado o retábulo maneirista, de 1635, que veio do extinto convento franciscano da baixa de Coimbra. No centro do retábulo, encontramos o sacrário, que não fazia parte do retábulo original. Esta capela simétrica ao batistério relativamente ao altar, abre-se num grande janelão vertical voltado a norte, no eixo diametralmente oposto ao batistério.
Ambos os corpos laterais remetem para os sacramentos, cuja origem é o Mistério Pascal de Cristo, que saem do lado aberto do Crucificado de onde brota o sangue e a água, numa torrente de vida e de eternidade.

A iluminação da Igreja

O facto de as três janelas que iluminam respetivamente o presbitério, o batistério e a capela do Santíssimo, provirem da mesma reentrância operada no mesmo alçado, remete-nos para a origem comum de toda a vida da Igreja, cuja fonte é o Mistério da Trindade Santíssima, que da sua eternidade se derrama sobre a comunidade cristã, convidando-a a tomar parte na sua vida divina, na Jerusalém Celeste.
A iluminação do espaço litúrgico, de alguma forma, retoma a lógica românica da importância da luz. Na Igreja, exceto as janelas do batistério e da capela do Santíssimo, que se prolongam do chão até ao teto, sem, contudo, ser percecionadas pela assembleia, toda a iluminação é indireta e vem de aberturas efetuadas na cobertura. Deste modo, por cima do corpo central, recebemos luz indireta e difusa, por meio de uma grande claraboia, cuidadosamente escondida por teto falso. Este estratagema leva-nos a focar a nossa atenção, por um lado no presbitério, o lugar mais iluminado; por outro, na parte superior da igreja de onde nos vem toda a luz. Ao entrarmos dentro da igreja somos impelidos a elevar o nosso espírito e a reconhecer que é do alto que vem a luz que enche de vida, de alegria e de esperança a comunidade cristã.

A ala nascente do edifício da Igreja, na quase totalidade do espaço, é constituída por três grandes portas, que se encontram no eixo oposto aos três arcos do presbitério. Estas portas podem abrir-se simultaneamente, prolongando o espaço da assembleia para o adro da Igreja, indicando que a fé que a comunidade cristã ali celebra dentro, não pode ficar circunscrita ao momento da ação litúrgica, mas se deve manifestar na vida, pelo testemunho de cada um dos batizados. A vida da Trindade, que pelo sacramento da Eucaristia toca e alimenta o coração dos fiéis, por meio deles tem de tocar o mundo e as realidades temporais, às quais, como mensageiros do Evangelho, cada um é enviado.
No corpo lateral norte, onde se situa o batistério, no lugar oposto, junto da entrada, encontramos ainda o espaço da reconciliação. A sua relação com o batismo é evidente, uma vez que pelo sacramento da reconciliação, nos é restituída a graça batismal que pelo pecado teimamos em obscurecer em nós. Como muitos padres da Igreja diziam, “Deus deixou-nos uma segunda tábua de salvação, o sacramento da reconciliação, que restaura em nós a graça do batismo”.

Sacristia

Através do corpo lateral norte, junto do batistério, temos acesso à sacristia, um pequeno espaço onde se guardam todas as alfaias necessárias para a vida sacramental da comunidade paroquial (espaço francamente pequeno, comparativamente à dimensão da Igreja e às exigências da paróquia).

Capelas Funerárias

Na parte inferior da Igreja, por baixo do corpo lateral sul, sob a Capela do Santíssimo Sacramento, encontramos as capelas funerárias: uma dedicada à Páscoa e outra à Ressurreição. A relação umbilical entre estas capelas e o Santíssimo Sacramento, recordam-nos que a eucaristia é experiência antecipada da vida eterna e que pelo sacramento do Corpo e do Sangue de Cristo, experimentamos no já da história o ainda não do Reino de Deus, até ao dia em que nos sentarmos para sempre no banquete Eterno, na Cidade Santa. Pela Eucaristia, celebração memorial da Páscoa, caminhamos no mundo alimentados por Aquele que nos faz ir ressuscitando em cada dia até à ressurreição definitiva, quando passarmos desta vida para a vida divina.

Retábulo

O retábulo acima aludido, que acompanhou a história da comunidade, desde a primitiva capela de Nossa Senhora de Lurdes, mandada edificar por D. Manuel Bastos Pina, é datado de 1635. Pertenceu a um convento franciscano que terá existido na Rua da Sofia, provavelmente, o Colégio de S. Pedro, atualmente, a Casa de Saúde da Sofia. O retábulo de madeira dourada, de grande qualidade, é em estilo maneirista, numa transição para um barroco primitivo. O retábulo é constituído por três segmentos, delimitados por quatro pilastras. Cada uma dessas pilastras está decorada por uma elegante filigrana dourada, tendo ao centro uma cabeça de anjo. O corpo central, maior relativamente aos outros, é composto por um arco de volta perfeita, assente em pilastras, totalmente decorado com folhas de acanto douradas. No semicírculo do arco encontramos uma sol raiado, que tem ao centro um pequeno espelho. Na zona mais baixa encontramos uma mísula semicircular que, no passado teria sido usada para suportar uma imagem de um santo (provavelmente franciscano) e que agora serve de base ao sacrário, que objetivamente não pertenceu ao retábulo original.
Nos dois corpos laterais, enquadradas por pilastras, encontramos quatro imagens de santos da ordem franciscana: no corpo lateral direito, encontramos na parte superior S. Bernardino de Sena, com as três mitras aos pés, representando a rejeição por três vezes do ministério episcopal. São Bernardino segura o disco solar no qual está a inscrição do Monograma “IHS”, o nome de Jesus. Na parte inferior Santo António de Lisboa, com o livro, a cruz e o Menino Jesus; no corpo lateral esquerdo, encontramos na parte superior um Santo Bispo, São Luís de Tolosa, um santo taumaturgo, cuja representação com S. Bernardina é muito frequente. Na parte inferior São Francisco de Assis, fundador da ordem Franciscana e que, juntamente com Santo António de Lisboa, constituem dois dos maiores e mais destacados santos da ordem.
As extremidades laterais do retábulo são decoradas com alguns elementos barrocos, talvez não originais do conjunto, mas que apresentam ao centro uma fénix de cada lado, remetendo-nos para o mistério da ressurreição e, de alguma forma, para o mistério da Eucaristia ali guardada, pela qual somos alimentados com a vida divina e participamos da eternidade. Ao cimo do retábulo, encontramos uma cornija que apresenta cinco anjos.
Na predela, que reproduz a segmentação do retábulo, podemos encontrar no corpo lateral esquerdo uma cartela que diz “anno” e no corpo lateral direito uma cartela que diz “1635”. Ao centro, por baixo da mísula do sacrário encontramos uma cabeça de anjo, com as asas abertas.

Horário das visitas:

Segunda a Sexta:
9:00 às 12:30 e das 14:30 às 18:00

Sábados, domingos e feriados:
Encerrado para visitas